segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ÀS VEZES É PRECISO TEMPO!

O ano de 2017 foi um ano muito difícil para os professores que ainda não estavam efetivados no Estado de São Paulo!
Infelizmente o Sr. Governador Geraldo Alckmin não fez tudo que estava ao seu alcance para manter os parâmetros mínimos necessários. Fechou-se centenas de salas, aumentou-se o número de alunos por classe, voltou-se para as salas de aula professores que eram readaptados e que já desempenhavam outras funções, também igualmente imprescindíveis. Com isso, não havia aulas suficientes para os professores que estavam a menos tempo lecionando, e com isso foi necessário passar o ano todo apenas em substituição, que todo mundo sabe, não é uma tarefa fácil, pois os alunos não querem normalmente fazer as atividades de um professor que amanhã não estará mais ali.
Contudo, acabei substituindo uma professora na Escola Risoleta, na cidade de Americana, e conseguimos fazer um lindo trabalho. Os alunos ficaram empenhados pois entenderam as propostas que giravam em torno da obra de de Nadir Afonso, um artista plástico português que gosto de fazê-los conhecer, pois sua obra, além de muito interessante, propicia aos alunos um entendimento fácil de seus processos criativos e os estimulam a criar os próprios trabalhos. A outra temática foi Modernismo Brasileiro que também resultou em trabalhos interessantes e criativos.
O eixo de Nadir Afonso denominamos: Nadir Afonso, um menino que queria ser artista!
Fizemos um poster de abertura:



Como nas fotos da exposição os trabalhos ficavam distantes e não dava para apreciar os detalhes, colocamos aqui, apenas os agrupamentos.









A outra temática foi Modernismo Brasileiro que também resultou em trabalhos interessantes e criativos.
E no eixo do Modernismo Brasileiro também fizemos o poster de abertura, e um poema para complementar a abertura:

SOU MODERNO, SOU MODERNISTA, SOU CONTEMPORÂNEO

Dizem que meu pai é moderno
Nunca vi palavra mais démodé
Só porque ele anda de Skate!
...Os tombos ninguém vê

Dizem que Leonardo da Vinci
É moderno também
Mas, quem fez a Mona Lisa
...É moderno como ninguém

Estás me achando com cara de otário
E não caio nesta esparrela
Daqui a pouco vão dizer
Para que eu me case com Ela

Outro dia me disseram
 que  Modernismo é
  do século vinte
Mas, como pode ser moderno
O tal do Leonardo da Vinci?
Em 1452 ele nasceu
Agora, quem não entende mais nada sou Eu.

O eixo da exposição: Sou moderno, sou Modernista, sou Contemporâneo, foi a maneira que encontramos para provocar a reflexão aos alunos com relação a estas três palavras, que se confundem pela sonoridade (as duas primeiras) e pelo conteúdo.
A Idade Moderna, que teve início no ano de 1453 com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos foi um marco histórico da passagem da Idade Média, para a época dos descobrimentos, dos avanços científicos, da descoberta da imprensa por Gutemberg, entre outros avanços.
Já o Modernismo é um conjunto de movimentos culturais e artísticos que fez cair por terra os antigos cânones da arte greco-romana, implantando novas e diferentes formas de se olhar para o mundo. A máquina fotográfica já havia sido inventada e não se tinha mais a necessidade de se fazer obras realistas, pois a câmera o fazia. Além do que, os avanços na indústria propiciava outras formas de se viver.

Ser contemporâneo é ser do “mesmo tempo”. Tanto Rafael era contemporâneo de Leonardo da Vinci, como O Robinho é contemporâneo do Ronaldinho Gaúcho.


Parabéns a todos estes alunos que ali estavam em 2017 e que deram conta, em tão pouco tempo,  de tanto trabalho e com tanto talento.





domingo, 4 de março de 2018

DIVERSIDADE CULTURAL - O MARACATU

Num país com uma territorialidade tão extensa como a nossa, a diversidade cultural é mais comum do que se pensa, e, por vezes, nos causam até estranhamentos.

O Maracatu  é uma destas manifestações, uma mistura das culturas ameríndias, africanas e europeias, concentrada mais  nos Estados do Nordeste, mas hoje tem alcance em quase todo o Brasil, África, Canadá, França, Alemanha, entre outros.
Recebemos estas fotos de uma Festa de Maracatu, realizada na cidade de Nazaré da Mata, Estado de Pernambuco, vistas sob a lente de um Italiano amigo nosso, que aqui esteve em 2012, Riccardo Iorio. A ele nossos agradecimentos por esta contribuição.
Hoje, tido como uma manifestação carnavalesca por estas comunidades, sua história remonta à escravidão, e a hipótese mais difundida é a de que teria surgido à partir das coroações e autos do Rei do Congo, prática implantada no Brasil supostamente pelos colonizadores portugueses e, por consequência, permitida pelos senhores de escravo.
Os eleitos como rainhas e reis do Congo eram lideranças políticas entre os cativos: intermediários entre o poder do Estado Colonial e as mulheres e homens de origem africana. Destas organizações teriam surgido muitas manifestações culturais populares que passaram a realizar encontros e rituais em torno dessas representações sociais, originando o Maracatu do Baque Virado, que também estabeleceu ao longo dos anos em diversos "agrupamentos" uma forte ligação com a religiosidade do Candomblé ou Xangô Pernambucano.
Estivemos pesquisando e constatamos que, apesar de fazer parte importante de nossa cultura, até aquele ano (2012) não se encontrava registrado no IPHAN, (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como Patrimônio Cultural Imaterial.  Contudo, o devido registro foi feito em Dezembro de 2014 .
Para acompanhar as fotos tiradas por Ricardo Iorio, optamos por acompanhá-las de um trecho do livro Maxombas e Maracatu de Mario Sette, de 1948.
Vejam que, entre o texto e as fotos passaram-se 64 anos, mas parecem feitos do mesmo momento histórico.

Eram típicos no carnaval de antigamente. típicos, numerosos, importantes, suntuosos. No meio do vozerio da mascarada, dominando as marchas dos cordões, ouvia-se ainda longe o rumor constante, uniforme, monótono dos atabaques:
Bum...bum...bum...bum
Bum...bum...bum...bum

Era um maracatu. Havia os que gostavam dele e esperavam-no com curiosidade. Havia os que protestavam contra a revivescência africana e resmungavam.
Bum…bum…bum…bum… No fim da rua, por cima do povo, surgia o grande chapéu de Sol Vermelho, rodando, oscilando, curvando-se. 

E o batuque cada vez mais perto, mais perto. Dali a pouco desfilava o cortejo real dos negros

Vinha o rico estandarte com cores vivas e bordados a ouro. 


Traziam fetiches religiosos nas mãos

Depois o Rei e a Rainha, em trajes majestosos, debaixo da ampla umbela de seda encarnada com franjas douradas. Empunhavam os cetros, vestiam longos mantos, e tinham cabeças coroadas.

Na retaguarda do préstito, os atabaques, as marimbas, os congás, os pandeiros, as buzinas… As canções que todos entoavam eram ordinariamente nostálgicas, como uma ancestral saudade da terra de berço, ficada tão distante. Costumavam também cantar assim:
Bravos, Ioio! Maracatu Já chegou.
Bravos, Iaia! Maracatu vai passar.
Uma das mulheres empunhava uma grande boneca de pano toda engalanada de fitas, e repetia numa toada dolente:
A boneca é de seda…
A boneca é de seda… 


Os maracatus paravam em frente às casas dos protetores e ali dançavam durante alguns minutos. Antigamente licenciavam-se dezenas deles e apresentavam-se com verdadeiro luxo. Nas sedes havia demoradas festas, com danças e batuques, a que assistiam os soberanos sob um dossel de veludo.


Todos os negros da costa, tão comuns no Recife de ontem, aqueles mesmos que se reuniam , também, religiosamente, na Igreja do Rosário, lá se achavam para tomar parte no toques. O maracatu hoje escasseia e já não tem mais o esplendor de antes. Em menino eu tinha medo dos maracatus. 


Medo e como uma espécie de piedade intraduzível. Aqueles passos de dança, aqueles trajes esquisitos, aqueles cantos dolentes, me davam uma agonia…Eu me encolhia todo, juntando-me à saia de chita de minha mãe preta, com receio talvez de que os negros do maracatu a levassem também. E eu não sabia ainda ser o maracatu uma saudade…Hoje é que a compreendo, que a sinto, recordando os maracatus de minha infância e de minha terra, vendo os carnavais de outras cidades e de outra época… Parece-me perceber ainda o batuque longínquo, cada vez mais remoto, cada vez mais indeciso, quando, na alta noite da terça-feira, no silêncio e na tristeza do Carnaval acabado, o derradeiro maracatu se recolhia à sede…
Bum…bum…bum…bum…
Bum…bum…bum…bum…
E lá se ia, como se foi, o meu maracatu de menino…” 
  
                                                CRÉDITOS
Texto Extraído de: http://maracatu.org.br/o-maracatu/breve-historia/


Posts publicados originalmente em http://sabedoriapopular.blogs.sapo.pt/61307.html
e http://intercambiando.blogs.sapo.pt/74583.html estes da mesma autora deste blog.


Ricardo Iorio - autor das fotos.


Evolução da Bateria do Estrela Brilhante Carnaval de 2015


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