Este é um Projeto que iniciamos em 2018 e cujo objetivo principal é fazer arte através de materiais de descarte e, na medida do possível ressignificá-los. Desde então, o upcycling tem norteado nossos trabalhos, toda vez que podemos contar com a compreensão sobre sua importância por parte das equipes de coordenação e direção. Quero aqui deixar meus agradecimentos a Daniele Granzotto, coordenadora da área de Linguagens da Escola Irene de Assis Saes de Santa Bárbara D'Oeste/SP pelo apoio e fortalecimento de nossa iniciativa.
Como dissemos aqui é um Projeto que cresce a cada ano e cujo próximo passo será criar uma rede virtuosa de trabalho criativo e a formação de cooperativa para escoamento produtivo, e possível renda aos envolvidos. O Upcycling mudou nossa forma de ver e aplicar a educação, pois coloca o aluno mais próximo de uma realidade iminente: A necessidade de olharmos para o meio ambiente e a sustentabilidade e acreditarmos que podemos mudar o mundo... Utopia?
Zigmunt Bauman, 2009, pag. 38, diz que:
"Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se readéque. A Segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que “nós, seres humanos podemos fazê-lo”. Essa crença está articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que pode ser modificado, quais são seus pontos problemáticos e ter força e coragem para extirpá-los. Em suma, potencializar a força do mundo para o atendimento das necessidades humanas existentes ou que possam a vir existir".
É claro que apenas os materiais utilizados nestas experiências, não serão suficientes para salvar o mundo, mas acreditamos estar plantando sementes que poderão, sim, dar muitos frutos.
Wahl, 2020, pag. 37, 80, 81,143, 161, nos alerta sobre a importância da educação formal e não formal para criar uma nova cultura de fortalecimento para um design de culturas regenerativas, que poderão salvar nosso planeta, e criar uma sociedade mais justa e generosa.
Assim sendo, continuamos a "espalhar nossas sementes", com a convicção de poder no ano de 2022 estendê-la à comunidade com um trabalho mais localizado, ampliando esse conceito de "upcycling", já muito difundido, apreciado e valorizado em países europeus, e em algumas cidades brasileiras, como Santos, por exemplo, através do Lixo Zero.
No ano de 2021, por conta da pandemia tivemos uma redução drástica no número de alunos na escola. Ora pelo trabalho remoto, ora pelas turmas alternadas, ora porque muitos desistiram mesmo da escola. Assim sendo, o número de trabalhos também foi drasticamente diminuído, e, em muitos casos cada trabalho foi confeccionado por diversos alunos, conforme apareciam na escola. Isso demandou um tempo excessivo para cada atividade, porém, ainda assim, queremos crer que valeu a pena o plantio, uma vez que as habilidades envolvidas permeiam territórios diversos como a estética, a técnica, a sustentabilidade e a ética... E tudo isso ainda atrelado às habilidades do currículo...
Para os primeiros anos, para atender ao currículo que propunha as "Visões sobre o corpo na Arte", aprofundou-se nas pesquisas sobre a história da arte, onde cada aluno fez sua escolha baseada em seu gosto pessoal, pois entendemos a importância de se gostar e se interessar por aquilo que se está produzindo e partimos para a construção de máscaras, feitas com restos de papéis que vamos acumulando na escola toda durante o ano:
Desde que começamos a trabalhar com sustentabilidade em arte, observamos que são trabalhos que demandam mais tempo que os demais trabalhos, pois resultam em desafios técnicos e estéticos mais complexos devido às características dos materiais utilizados.
Essa demanda de tempo levou-nos a considerar as teorias de "fluxo" de Csikszentmihalyi, 1997, que, em breves palavras, são habilidades que um indivíduo precisa para atingir um estado pleno de concentração e motivação.
Este conceito foi muito importante para que os alunos compreendessem sobre as possibilidades de envolvimento com atividades que podem nos manter focados e nos trazer bem estar.
Após a conclusão das máscaras, foi solicitado aos alunos que relacionassem a atividade às habilidades expressas do currículo e aos conceitos de "fluxo" e "upcycling" aprendidos nela. Foram orientados para que ficassem à vontade para falar o que realmente sentiram e como tinha sido aquele longo processo que, por vezes, percebíamos que, para alguns, já estava um pouco cansativo.
Um aluno disse: "depois das explicações sobre a boa experiência, das teorias do "fluxo", eu abri meus olhos, de uma maneira que não dá para explicar. Eu fiquei muito mais motivado para terminar a máscara que, antes, confesso, estava meio desanimado".
Outro escreveu: "no decorrer do processo pesquisei sobre máscaras gregas e aprendi sobre a história delas e resolvi fazer uma máscara grega, que de início me pareceu muito complicado e eu pensei em desistir, mas procurei formas de melhora-la, me envolvi completamente em meu trabalho e adorei o resultado. Foi uma experiência divertida que envolveu história e arte.
Outra aluna escreveu: "foi interessante conhecer o trabalho de diferentes tempos e lugares de cada aluno, e percebi que aprendi a ter mais paciência, e a ter mais foco".
Outro disse que " com tanto envolvimento na atividade pude esquecer preocupações e problemas pessoais e diários, ficando cada vez mais prazeroso quando percebia que, realmente horas passavam em minutos".
Muitos deles fizeram citações sobre as falas de Mihaly, o que nos alegrou, uma vez que ainda não é do hábito deles, alunos de 1º ano do Ensino Médio, essa prática. Muitos também mencionaram a concentração exigida na atividade, o que os ajudou a melhorar a atenção e a perceber o tempo passando mais rápido que o habitual, mesmo numa atividade com certo grau de dificuldade.
Já com os segundos anos, para atender ao currículo que pedia: "Produzir poéticas pessoais, coletivas e/ou colaborativas por meio de percursos de experimentação" criamos um braço do projeto de Upcycling, denominado Arte, Luz para a Vida" que consistia em desenvolver luminárias a partir dos descartes domiciliares, como embalagens, papéis, vidros, ferramentas, cerâmicas quebradas. Além dos desafios já mencionados anteriormente, aqui nos deparamos com o desafio de utilizar-se o mais possível do design prévio do objeto, que já foi pensado anteriormente por alguém capacitado para isso e que já tem, em sua maioria, uma boa forma. E, também, o desafio da parte elétrica, que não é um recurso disponível no sistema de educação brasileiro e, nem, tampouco acessível.
As equipes ficaram bastante envolvidas e resultaram em bons trabalhos: