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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Upcycling para Construir Poéticas e Saberes_Ano 2021

 Este é um Projeto que iniciamos em 2018 e cujo objetivo principal é fazer arte através de materiais de descarte e, na medida do possível ressignificá-los. Desde então, o upcycling tem norteado nossos trabalhos, toda vez que podemos contar com a compreensão sobre sua importância por parte das equipes de coordenação e direção. Quero aqui deixar meus agradecimentos a Daniele Granzotto, coordenadora da área de Linguagens da Escola Irene de Assis Saes de Santa Bárbara D'Oeste/SP pelo apoio e fortalecimento de nossa iniciativa.

Como dissemos aqui é um Projeto que cresce a cada ano e cujo próximo passo será criar uma rede virtuosa de trabalho criativo e a formação de cooperativa para escoamento produtivo, e possível renda aos envolvidos.  O Upcycling mudou nossa forma de ver e aplicar a educação, pois coloca o aluno mais próximo de uma realidade iminente: A necessidade de olharmos para o meio ambiente e a sustentabilidade e acreditarmos que podemos mudar o mundo... Utopia? 

Zigmunt Bauman, 2009, pag. 38, diz que:

"Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se readéque. A Segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que “nós, seres humanos podemos fazê-lo”. Essa crença está articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que pode ser modificado, quais são seus pontos problemáticos e ter força e coragem para extirpá-los. Em suma, potencializar a força do mundo para o atendimento das necessidades humanas existentes ou que possam a vir existir".

É claro que apenas os materiais utilizados nestas experiências, não serão suficientes para salvar o mundo, mas acreditamos estar plantando sementes que poderão, sim, dar muitos frutos.

Wahl, 2020, pag. 37, 80, 81,143, 161, nos alerta sobre a importância da educação formal e não formal para criar uma nova cultura de fortalecimento para um design de culturas regenerativas, que poderão salvar nosso planeta, e criar uma sociedade mais justa e generosa.

Assim sendo, continuamos a "espalhar nossas sementes", com a convicção de poder no ano de 2022 estendê-la à comunidade com um trabalho mais localizado, ampliando esse conceito de "upcycling", já muito difundido, apreciado e valorizado em países europeus, e em algumas cidades brasileiras, como Santos, por exemplo, através do Lixo Zero

No ano de 2021, por conta da pandemia tivemos uma redução drástica no número de alunos na escola. Ora pelo trabalho remoto, ora pelas turmas alternadas, ora porque muitos desistiram mesmo da escola. Assim sendo, o número de trabalhos também foi drasticamente diminuído, e, em muitos casos cada trabalho foi confeccionado por diversos alunos, conforme apareciam na escola. Isso demandou um tempo excessivo para cada atividade, porém, ainda assim, queremos crer que valeu a pena o plantio, uma vez que as habilidades envolvidas permeiam territórios diversos como a estética, a técnica, a sustentabilidade e a ética... E tudo isso ainda atrelado às habilidades do currículo...

Para os primeiros anos, para atender ao currículo que propunha as "Visões sobre o corpo na Arte", aprofundou-se nas pesquisas sobre a história da arte, onde cada aluno fez sua escolha baseada em seu gosto pessoal, pois entendemos a importância de se gostar e se interessar por aquilo que se está produzindo e partimos para a construção de máscaras, feitas com restos de papéis que vamos acumulando na escola toda durante o ano:


Desde que começamos a trabalhar com sustentabilidade em arte, observamos que são trabalhos  que demandam mais tempo que os demais trabalhos, pois resultam em desafios técnicos e estéticos mais complexos devido às características dos materiais utilizados.

Essa demanda de tempo levou-nos a considerar as teorias de "fluxo" de Csikszentmihalyi, 1997, que, em breves palavras, são habilidades que um indivíduo precisa para atingir um estado pleno de concentração e motivação.

Este conceito foi muito importante para que os alunos compreendessem sobre as possibilidades de envolvimento com atividades que podem nos manter focados e nos trazer bem estar.

Após a conclusão das máscaras, foi solicitado aos alunos que relacionassem a atividade às habilidades expressas do currículo e aos conceitos de "fluxo" e "upcycling" aprendidos nela. Foram orientados para que ficassem à vontade para falar o que realmente sentiram e como tinha sido aquele longo processo que, por vezes, percebíamos que, para alguns, já estava um pouco cansativo. 

Um aluno disse: "depois das explicações sobre a boa experiência, das teorias do "fluxo", eu abri meus olhos, de uma maneira que não dá para explicar. Eu fiquei muito mais motivado para terminar a máscara que, antes, confesso, estava meio desanimado".

Outro escreveu: "no decorrer do processo pesquisei sobre máscaras gregas e aprendi sobre a história delas e resolvi fazer uma máscara grega, que de início me pareceu muito complicado e eu pensei em desistir, mas procurei formas de melhora-la, me envolvi completamente em meu trabalho e adorei o resultado. Foi uma experiência divertida que envolveu história e arte.

Outra aluna escreveu: "foi interessante conhecer o trabalho de diferentes tempos e lugares de cada aluno, e percebi que aprendi a ter mais paciência, e a ter mais foco".

Outro disse que " com tanto envolvimento na atividade pude esquecer preocupações e problemas pessoais e diários, ficando cada vez mais prazeroso quando percebia que, realmente horas passavam em minutos".

Muitos deles fizeram citações sobre as falas de Mihaly, o que nos alegrou, uma vez que ainda não é do hábito deles, alunos de 1º ano do Ensino Médio, essa prática. Muitos também mencionaram a concentração exigida na atividade, o que os ajudou a melhorar a atenção e a perceber o tempo passando mais rápido que o habitual, mesmo numa atividade com certo grau de dificuldade.

Já com os segundos anos, para atender ao currículo que pedia: "Produzir poéticas pessoais, coletivas e/ou colaborativas por meio de percursos de experimentação" criamos um braço do projeto de Upcycling, denominado Arte, Luz para a Vida" que consistia em desenvolver luminárias a partir dos descartes domiciliares, como embalagens, papéis, vidros, ferramentas, cerâmicas quebradas. Além dos desafios já mencionados anteriormente, aqui nos deparamos com o desafio de utilizar-se o mais possível do design prévio do objeto, que já foi pensado anteriormente por alguém capacitado para isso e que já tem, em sua maioria, uma boa forma. E, também, o desafio da parte elétrica, que não é um recurso disponível no sistema de educação brasileiro e, nem, tampouco acessível.

As equipes ficaram bastante envolvidas e resultaram em bons trabalhos:










Bibliografia

BAUMAN, Zygmunt. Entrevista. Cult, São Paulo, n. 138, p. 37-41, ago. 2009.

CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly.  Flow -The Psychology of Optimal Experience. Harpper Collins Ebooks, 1997


sábado, 21 de março de 2020

MÚSICA, TECNOLOGIA E PINTURA PARA COMPOR NARRATIVAS

Quando um professor consegue ter suas demandas atendidas (ser respeitado, ouvido, incentivado, alunos respeitosos e pró-ativos), fica pisando nas nuvens, cheio de alegria, com vontade de realizar mais, e até esquece"as dores do parto"!
Quem dá aula na Escola Ary Menegatto, de Americana, sabe do que estou falando! Vejo esse entusiasmo em muitos deles todos os dias.
Mas, não é mero acaso! É um conjunto de fatores que contribuem para que isso ocorra: Uma direção e coordenação firme e cooperativa, professores acolhedores e comprometidos, uma estrutura administrativa eficiente e pais participativos.
Chego ao final do ano, com a sensação de dever (ou prazer?) cumprido!
E com a culminância de uma bela exposição, que só foi possível graças a todos estes fatores mencionados. Nossos agradecimentos aos estudantes do Ary que, em tão pouco tempo, nos deram tanto!

O trabalho aqui realizado foi um entrelaçamento de saberes e linguagens que tiveram como ponto de partida a música erudita, iniciada pelo sec. XVII e chegamos aos dias atuais, onde propomos aos alunos que usassem os recursos tecnológicos para criar músicas híbridas. Com isso despertamos o interesse deles para o erudito, sem que se sentissem "massacrados" por um som que não estavam acostumados a ouvir com frequência. 
Na sequência os diversos períodos foram contextualizados usando outras linguagens, principalmente a visual, mas nesse ínterim da construção dos trabalhos visuais os alunos criaram vídeos, onde se utilizavam das músicas estudadas para criar a sonoplastia dos vídeos ou apresentações de seminário. Algumas equipes optaram por vídeo, outras pelo seminário. O produto final disso tudo foi a linda exposição mencionada, que foi dividida por eixos temáticos, sempre lembrando da liberdade dada ao aluno de seguir seu caminho: Ou fazendo estudos de obras de artistas consagrados, ou reinterpretando suas obras e trazendo-as para a contemporaneidade e suas demandas, ou criando sua própria obra partindo apenas dos recursos pessoais. Objetivou-se com isso, uma ampliação de repertório estético e cultural, criticidade, prática investigativa na contextualização dos saberes, promovendo uma maior sensibilidade e intuição que se manifestam em subjetividades e formas de expressão no processo de aprendizagem em Arte.

Vamos lá!

O primeiro eixo privilegiou a "Busca do Feminino" nas diversas épocas estudadas. Como inspiração obras de Jean Dominique Ingrés, Marc Chagal, André Lhote, Picasso, Frida Kalo, Velásquez.




No eixo "Em Busca do Masculino" buscou-se através de algumas pinturas icônicas, como "Cavaleiro com a mão no peito" de El Grecco, uma reflexão de quem seriam, na contemporaneidade, estes personagens, e o resultado foi bastante interessante. 


Caravaggio serviu de inspiração com sua obra "Baco" e "Ceia em Emaús",onde buscou-se refletir sobre as transformações nas comemorações da páscoa. Leonardo da Vinci, com sua obra "São João Batista".

Jean Dominique Ingrés com sua obra "Tétis Implorando a Júpiter" permitiu que se refletisse sobre as relações de domínio masculina, e Sergio Ferro, artista contemporâneo, propôs um olhar sobre a figura dos Yupies ("Young Urban Professional", termo cunhado no início dos anos 80 para definir os jovens que trabalhavam na cidade e que apresentavam um padrão de vestimentas e comportamentos).


O terceiro eixo foi "OS GIGANTES"



A imagem de fundo faz parte também da exposição, mas como era uma foto foi questionada, pelos próprios colegas, a atuação do aluno ao apresentá-la, ao que nós discordamos, claro, por constituir-se de uma iconografia contemporânea e que faz todo sentido a eles, por ser personagem de um jogo. Depois disso o mesmo aluno apresentou um trabalho, parte em vídeo, parte em oratória, que acabou por dirimir qualquer dúvida que alguém pudesse ter sobre sua validade.

E, por fim, mas não menos importante o eixo 'BRASIL, BRANCO, PRETO, MESTIÇO




















terça-feira, 23 de abril de 2019

Upcycling para Construir Poéticas e Saberes

A Escola Geraldo de Oliveira em Nova Odessa/SP deu-me grande alegria no ano de 2018.
Todas as propostas foram discutidas e "abraçadas" pelos alunos, que se desdobraram nas diferentes temáticas e compreenderam a importância de transformar o que iria ser descartado, em material de estudo, reflexão e arte.
Fomos surpreendidos neste ano, com número gigantesco de livros didáticos que iriam ser descartados, para dar lugar a novos materiais que chegavam à Escola. Diante desse cenário professor e alunos coletaram todas as imagens de arte que os livros continham. Foi um longo trabalho de seleção e catalogação das imagens, o que permitiu aos alunos reverem algumas que já conheciam e conhecer outras tantas.
Depois disso, passamos para a parte criativa, onde as imagens iriam contar outras histórias, e criar outras narrativas, e desenvolver realmente o conceito de Upcycling, que se trata de uma reutilização criativa do que seria descartado. 
O que resultou em uma bela exposição, aproveitando não apenas as imagens, mas criando relevos utilizando-se de outros papéis de descarte. A partir desse momento, confesso, que minha própria prática docente começou a seguir outro caminho: A do olhar para todos os resíduos que podem ser transformados em arte e, assim contribuir para desenvolver habilidades de design, de estética, de conscientização ambiental e social, e outras tantas que vão aparecendo no decorrer desses procedimentos. Este é o início de um projeto que se aprimora a cada ano, com outros materiais, outras temáticas e que me levará no ano de 2021 a fazer um Mestrado na área de Artes, Urbanidades e Sustentabilidade, na Universidade Federal de São João del Rei - MG
Na sequência, alguns trabalhos resultantes dessa iniciativa, onde dialogou-se com outras disciplinaridades, para se criar as narrativas. Tratou-se aqui das condições femininas em seus diferentes contextos, das tecnologias e suas evoluções, das guerras, dos problemas brasileiros, entre outros... Temas escolhidos livremente pelas equipes que os desenvolveram.




A próxima sequência de trabalhos já não pertencem ao Projeto de Upcycling, mas colocamos aqui porque foram realizados no mesmo ano e na mesma escola mencionada. Podemos dizer que foi um ano por demais produtivo.

No semestre seguinte continuamos com a temática do meio ambiente e sua preservação, porém estudando os Fractais que são figuras da geometria não clássica, muito encontrada na natureza, isto é, um objeto em que suas partes separadas repetem os traços (a aparência) do todo completo(padrão repetitivo) Wikepedia.

Como em todas as nossas exposições, fizemos uma abertura: 










Foram desenvolvidos, também trabalhos focados na temática do Patrimônio Cultural Imaterial. A este eixo denominamos: "Mãos que fazem, corpos que dançam"











sexta-feira, 21 de abril de 2017

REBELDIA EVOLUÍDA - PROTAGONISMO JUVENIL

Rebeldia Evoluída é o nome de um projeto amplo, cuja proposição inicial foi da aluna Luana Cristina da Silva, da escola Profº Wilson Camargo da cidade de Americana/SP, com apoio do corpo gestor e docente da escola, em parceria com vários atores sociais e que visou principalmente o protagonismo juvenil, dentro da escola.

A aluna manifestou à Diretoria da Escola o desejo de realizar um evento que privilegiasse o grafite. Sugeriu o nome, a partir do qual iniciou-se uma discussão durante vários encontros realizados, abordando aspectos filosóficos e sociais, questionando-se se o nome Rebeldia Evoluída não seria inadequado a um projeto a ser realizado numa escola. Após vários encontros e adequações ao projeto inicial da aluna, resolveu-se optar pelo mesmo, por unanimidade.
A partir de então os encontros, incluindo alguns artistas de fora da escola, ocorreram sempre com a mediação do então diretor Sr. Claudino Filho e da mediadora Profª Udy Brambila, com intervenções da professora de filosofia Prª Cleide Aparecida da Silva Quintal, sob a coordenação pedagógica da profª Marlene Ap. Marques Celestrino.
Depois de meses de preparação o evento foi realizado compondo a programação diversos eixos temáticos: O Grafite, a exposição de artes visuais dos alunos da profª Elizabete Pazeto, a exposição de literatura da profª Ilma, o Skate, as rimas, números de dança, a ginástica rítmica, o le parkour (esporte de deslocamento que visa a superação de obstáculos), capoeira, poesia, balé, comes e bebes (bolos, refrigerantes, salgadinhos e sucos naturais preparados pelos alunos).
Algumas fotos do evento:

                                          Um dos painéis de grafite, este executado pelo artista
                                          americanense Smania

Aqui o início da exposição Era uma vez..., dos alunos da professora Elizabete Pazeto, que foi dividida também em eixos temáticos, sendo este primeiro o da "Poéticas Pessoais", onde os alunos se expressaram visualmente com aquilo que se identificam, e complementaram a visualidade com uma frase poética.






 Aqui o eixo que deu nome à exposição "Era uma Vez...". Trata-se de uma Instalação onde os painéis têm estudos de obras de vários períodos da história da arte, e sob eles as linguagens convergentes de cada período, em miniaturas impressas em papel reciclado. Optou-se aqui as convergências dos mobiliários, meios de transportes, e moda de cada época.










Sob os dois últimos painéis não havia miniaturas, apenas espelhos, numa referência à contemporaneidade, que nos reflete.

Na sequência veremos o eixo com a temática "Mãos que fazem, corpos que dançam", que resultou de um trabalho de pesquisa junto ao IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde os alunos identificaram patrimônios culturais imateriais registrados no órgão, e construíram uma narrativa visual de patrimônios listados nos saberes ( mãos que fazem), e nas formas de expressão e celebrações ( corpos que dançam), resultando em trabalhos harmoniosos que privilegiam a livre expressão, as cores, numa busca criativa para encontrar as formas perfeitas de expressão.


E, finalmente o quarto eixo da exposição "Um Menino que queria ser artista", uma homenagem ao artista Português Nadir Afonso. A partir dos estudos dos diversos períodos da obra do artista, que transitou no modernismo, no surrealismo, no abstracionismo geométrico, nas formas fractais, organicistas e antropomórficas, os alunos criaram seus próprios trabalhos que se refletiram em outras formas, sem fugir dos períodos relacionados.
Como não conseguimos fotografar este eixo, seguem alguns trabalhos realizados.







Bem, como dissemos,  o evento reuniu diversas formas de expressão:

O Grafite

A Dança Contemporânea

O Balé

O Le Parkour

A Dança da Rua



Alunos em criação no recinto da festa


Alunos, gestores, artistas, comunidade, juntos num trabalho criativo e solidário.


 Que outros eventos como este venham a abrilhantar nossas escolas. Que este seja apenas o começo de um outro olhar para o espaço escolar, que as políticas se voltem para a necessidade de integrar a escola à vida...E, não precisa muito, apenas vontade.
Quero aproveitar a oportunidade para parabenizar a todos que participaram do evento, tanto na criação dos trabalhos, das apresentações, como em sua gestão, em especial ao Sr. Claudino, ex diretor da escola que, mesmo afastado de suas atividades como diretor, acreditou no projeto e alinhavou-o em todas as suas vertentes, valorizando cada participante individualmente e em seu coletivo. Sem esta "coesão" o projeto jamais teria saído do papel. 







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